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Cícero Dias

Sem título, década de 60

Sem título, década de 60
Óleo sobre tela
80 x 65 cm

Cícero Dias, nasceu em 5 de março de 1907, em Escada, Pernambuco. Foi um pintor, gravador, desenhista, ilustrador, cenógrafo e professor brasileiro, um dos mais importantes artistas para a história da arte do Brasil. Cícero iniciou seus estudos de desenho ainda em Pernambuco, embora, só a partir da década de 1920, quando mudou-se para o Rio de Janeiro, foi que deu início a sua carreira. Em 1925, matriculou-se nos cursos de arquitetura e pintura da Escola Nacional de Belas Artes – Enba, mas não os concluiu. Entra em contato com o grupo modernista e, em 1929, colabora com a Revista de Antropofagia. Em 1931, no Salão Revolucionário, na Enba, expôs o polêmico painel, tanto por sua dimensão quanto pela temática, “Eu Vi o Mundo… Ele Começava no Recife”. A partir de 1932, no Recife, lecionou desenho em seu ateliê. Em 1933, ilustrou Casa Grande & Senzala, grande obra de Gilberto Freyre (1900- 1987). Em 1937, é preso no Recife por decorrência do decreto do Estado Novo. A partir disso, incentivado por Di Cavalcanti, Cícero Dias viaja para Paris onde conhece Georges Braque, Henri Matisse, Fernand Léger e Pablo Picasso, de quem se torna amigo.

A obra inicial de Cícero Dias é composta principalmente de aquarelas, cujas composições oníricas evocam imagens do inconsciente, sob clara influência do surrealismo e do imaginário fantástico do Nordeste. A pintura de Cícero Dias estabelece uma certa relação íntima com a nossa natureza interior, enquanto que a natureza exterior é vista pelo artista com os olhos do espírito. Em 1942, é preso pelos nazistas com um grupo de brasileiros, foi trocado por prisioneiros alemães e chegou a ser enviado a Baden-Baden, na Alemanha. Libertado em Portugal, traçou rumos clandestinos para a França, depois de algum tempo retornou trazendo consigo o poema “Liberté”, de Paul Éluard, impresso em Londres e espalhado por toda a França, já ocupada pela Força Aérea Britânica. Cícero retorna à França apenas em 1948, onde em sua produção, prevalecem as composições abstratas, intensificando a geometrização com a qual já vinha trabalhando. Entretanto, percebe-se também em suas pinturas referências às cores e a luminosidade da natureza nordestina. A partir da década de 1960, Cícero Dias retorna à pintura figurativa com clima de sonho. Desta vez, com um toque acentuado de erotismo. As mulheres, os casarios, as folhagens e todas as nuances da vida cotidiana nordestina ganham vida por ele, a partir de um dinamismo de cores e formas.

A abstração lírica, por assim dizer, teve em Cícero Dias um representante pioneiro entre os pintores brasileiros. Seu projeto abstratizante da década de 1940, cujos elementos naturais locais eram o ponto de partida para uma construção geométrica influenciou artistas importantes como Montez Magno. No Brasil, só em 1953 realizou-se a Primeira Exposição Nacional de Arte Abstrata, com 53 obras de 23 artistas, em Petrópolis, Rio de Janeiro. A arte abstrata e a pintura primitiva no Brasil nasceram mais ou menos na mesma época. Ele também é autor do primeiro mural de arte abstrata da América do Sul, pintado no Recife, em 1948.