Juliana Lapa
Carpina, PE |
Carpina, PE |
A prática artística de Juliana Lapa suspende as fronteiras entre memória individual e coletiva, voluntária ou involuntária, entre as dimensões onírica e política da vida, bem como entre desenho e pictorialidade. Se valendo de diversos materiais, como grafite, lápis de cor, massa corrida, têmpera a ovo e tinta acrílica, a artista realiza procedimentos de apagamento das espessas manchas de grafite e desvelamento das camadas de massa corrida justapostas. O papel e a madeira são os suportes mais comuns sobre os quais Lapa realiza desenhos pormenorizados que se desdobram em composições expansivas. Com isso, a complexificação do tratamento da superfície acontece em analogia ao próprio detalhamento da fabulação narrativa das cenas.
É por esse meio que Lapa encontra um estado meditativo que permite o escrutínio do pormenor dos eventos, reais ou imaginários, projetados em seu trabalho artístico. Em alguns casos, são reminiscências de acontecimentos biográficos através dos quais Lapa vislumbra a história coletiva que permeia a existência e o trabalho das mulheres no campo. Em outros casos, são sonhos ou símbolos carregados de visões enigmáticas da natureza. Seu trabalho constantemente cita elementos iconográficos da história da pintura, com especial ênfase em alegorias barrocas, como a dança macabra.
Juliana Lapa trabalha a partir de séries que se desenvolvem ao longo dos anos em inúmeros trabalhos. Dentre suas séries mais importantes, somam-se Breu, Sorte Saúde e Felicidade, Fabulação e Outros esquemas do corpo . Entre as séries é possível notar relações de homologia de seus procedimentos de velamento, apagamento, entalhamento e modelagem da superfície.
Com isso, os trabalhos aludem a superfícies rígidas, como a parede, e variam entre os médios formatos a grandes dimensões.
Juliana Lapa transita por diversas linguagens visuais, como cinema, desenho e pintura. Após participar de expedições à Amazônia e conviver com moradores da floresta e do campo, passou a se dedicar à produção artística. Seus cadernos das expedições ainda são utilizados como ferramenta para reminiscência de situações vividas por Lapa. A artista participou de diversas mostras coletivas e, dentre suas individuais, destaca-se a mostra realizada em 2013, na Casa Viva, em Carpina, cidade onde nasceu. Seus trabalhos integram importantes coleções públicas e privadas institucionais, dentre elas: Pinacoteca de São Paulo, Coleção do Banco do Nordeste, REC Cultural e do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro.