CHAMA

Local da exposição: Galeria Marco Zero
Artista: Mostra coletiva com acervo da galeria
Curador: Filipe Campello

Em um poema conhecido, Manuel Bandeira descreve o sentimento de uma noite de São João com suas vozes, cantigas e risos ao pé das fogueiras acesas. Mas lamenta não ter visto o fim da festa por ter adormecido: “quando acordei estavam todos dormindo. Dormindo profundamente”. O verso é também um alerta, um chamado a despertar. A sentir-se vivo, estar presente. É o que Orhan Pamuk descreve como o sentimento peculiar de quem vive em Istambul: Hüzun, um afeto tanto melancólico como efusivo, que não é de um indivíduo, mas compartilhado, atravessado por uma memória coletiva, que revive o passado ao mesmo tempo que chama para o futuro.

Essa exposição pode ser vista como um chamado a sentir. Que deixa mostrar a força da arte em nos fazer presença. É um convite a deslocar sensorialmente a experiência de um sentir-se em casa mesmo fora dela, de partilhar de um imaginário que muitas vezes não sabemos bem de onde vem e que encontra gerações. Da lembrança que está na pitomba, nas construções e cenários que já não existem, nas formas e cores que se confundem com a cidade, no estranho e familiar, no embate e na fissura, no que vem de dentro e no que vem de fora, no diálogo e no conflito.

Com “Chama”, a galeria Marco Zero exibe pela primeira vez ao público seu acervo, abrindo as portas. O marco que representa o ponto de partida da cidade, mas que também é lugar de chegada através de seu porto. Quem chega aqui encontra um recorte expressivo do amplo e riquíssimo panorama da arte pernambucana, mas não só, configurando um lugar de encontros, que vê o mundo começando pelo Recife. O mesmo também vale para seu olhar no tempo: um passado que se mostra presente, e um presente com uma nova geração que acena para o futuro. Tanto em recorte espacial ou temporal, a exposição traz uma diversidade de estilos e técnicas, gerações presentes e ausentes, cenas e formas que mostram a força da arte em nos manter despertos, sempre alertas, vivos.