Abre caminho 

curadoria de Catarina Duncan

“Urge a restituição da vivacidade a partir da aproximação cotidiana com sabedorias de frestas, franjas, brechas, fendas, síncopes, gingas, dribles, rumores, brisas constantes…”

A mostra ‘Abre caminho’ apresenta uma seleção de obras de dez artistas de diversas gerações e regiões que emanam em suas práticas a noção de território, trajeto, percurso, rotas de fuga e paisagens. A seleção inclui pinturas, esculturas e tecelagens que contam narrativas cotidianas de artistas que trabalham a partir de seus caminhos ancestrais e contemporâneos, onde os tempos se misturam para abrir novos caminhos. 

Destacamos a apresentação de obras inéditas da artista paraibana Marlene Almeida, que há mais de cinquenta anos pinta com terra coletada em todo seu território, criando paisagens coletivas, consciência ecológica e memórias afetivas. Enquanto, Ianah, ao se utilizar também de pigmentos naturais para pintar, demarca o processo migratório de sua família por diversos estados do nordeste. David AlfIonso, segue o mesmo caminho em direção aos lugares de memória, ao retratar signos e símbolos, como as espadas de São Jorge, que se repetem e abrem caminhos das casas tanto na sua terra natal, Cuba, quanto em seu país de escolha, o Brasil. Ancestralidade e poder se fazem presentes nessas trajetórias que nos conectam à terra e nos convocam às origens.

As obras de Ramonn Vieitez elevam o tom das formas a caminho da abstração, criando campos oníricos e a sensação de fluxo sem chegada. Estabelecemos então o caminho em si, passageiro e eterno. Esse corpo de trabalho se relaciona com as obras de Montez Magno, linhas diagonais e paralelas, que cruzam rotas nas telas, das séries ‘Tantra’ e ‘Barracas do Nordeste’. Rayana Rayo, trabalha também dentro do universo da abstração com obras que a conectam ao imaginário dos sonhos, campo sutil de interlocução entre o dentro e o fora. 

As linhas nem sempre se tocam, mas apontam para caminhos e trajetos que se abrem constantemente, uma obra leva a outra e nos traz de volta, rotas internas e externas, terrenas e celestes. Contra a flecha do tempo, propomos o fractal. Vemos aqui paisagens macro e microscópicas, imagens abstratas e figurativas que nos firmam na inseparabilidade do todo. Necessitamos de histórias plurais, abertas, em camadas e não totalizantes. O que é daqui ou de lá, o que já passou e o que vai passar.

Artistas:

Burle Marx – Bozó Bacamarte – Chacha Barja – David Alfonso – Francisco Brennand

Ianah – Marlene Almeida – Montez Magno – Ramonn Vieitez – Rayana Rayo