ArPa 2025
Juliana Lapa, Rayana Rayo, José Rufino, Bozó Bacamarte, Derlon, Bruno Vilela, Ramonn Vieitez, Thiago Costa.
Curadoria: Daniel Donato
A Galeria Marco Zero selecionou os trabalhos mais recentes de seus artistas representados para ArPa 2025. As produções compartilham fortes relações de proximidade entre técnicas, pesquisas ou abordagens formais.
A estratigrafia é a técnica que caracteriza o mais novo desdobramento da prática de Juliana Lapa. Valendo-se do ato de ranhura sobre espessas massas policromadas justapostas sobre madeira, a artista cria paisagens alegóricas que, ao se desenrolarem em composições expansivas, atravessam as fronteiras entre símbolos oníricos e conflitos sociais, bem como entre a memória individual e a coletiva. Já em sua série Flores, o traçado manual é diminuto e assume o protagonismo em formas que tendem à simetria na mesma medida em que o gesto impossibilita tal espelhamento, resultando em flores fantásticas. Seu trabalho dialoga com as pinturas de Rayana Rayo que instauram um universo figurativo de matriz onírica. Suas telas recentes redimensionam ações da vida biológica, como germinação, escoamento ou florescimento, em um vocabulário formal que perpassa diversas de suas pinturas. José Rufino, por sua vez, transfigura as imagens para o campo da arte à maneira do teste do psicanalista Rorschach, que buscava nelas o espelho do inconsciente. A duplicação simétrica da mancha é alcançada por meio da dobra que faz a pintura se constituir como uma imagem segmentada de modo idêntico em quatro eixos.
As pinturas de Derlon se valem de um procedimento radical de síntese: ao passarem para a pintura, retratos de matrizes populares ganham traços gráficos, austeridade geométrica e rigor simétrico, ao passo que permanecem facilmente reconhecíveis. Seu trabalho se mantém na tensão entre xilogravura popular e artes visuais. Neste sentido, aproxima-se das paisagens de Bozó, que reimagina com bom humor a tradição iconográfica da gravura de cordel, bem como da produção Armorial. Assim sendo, cada um a seu modo, os dois pintores elaboram criticamente acerca da divisão entre vertentes artísticas contemporânea e popular, aproximando-as. O trabalho escultórico de Thiago Costa é pautado na geometrização, ora esgarça os limites do signo linguístico enquanto forja um alfabeto expansivo espacialmente, ora testa processos proporcionados pela solda e dobra de vergalhões de aço. As combinações materiais e simbólicas de suas esculturas remetem à tradição dos ferreiros de orixás, bem como à tradição da arte concreta brasileira.
Os trabalhos pictóricos de Bruno Vilela se destacam pela vibração luminosa da cor. Na série Rio de Dentro, as pinturas foram produzidas a partir de fotografias da Comunidade Santa Helena, no Rio Negro. A cor Urucum foi desenvolvida pela Joules & Joules, numa pesquisa conjunta com o artista. Nas telas de Ramonn Vieitez apresenta-se também um tratamento vibrante da paleta cromática, desta vez dando ênfase às paisagens de catástrofes naturais.